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Foto do escritorpedrorodrigues

Como tirar uma pessoa dentro da garrafa?

Como é que se coloca um elefante dentro de um frigorifico? Penso que por esta altura já todos terão ouvido esta anedota, certo? Mas o que é que que isso tem a ver com a imagem de uma pessoa dentro da garrafa? Ou o que é que isso tem a ver com o autismo, perguntam-se?


Mas vamos por partes. Alguns de vocês já se perguntaram ao olhar para uma garrafa com um objecto lá dentro como é que ele lá foi parar, certo? Seja um veleiro com uns mastros altíssimos, ou neste caso uma pessoa. Porventura, a resposta será quase sempre a mesma - encolhe-se! Ou seja, no caso do veleiro faz-se baixar os mastros e no caso da pessoa encolhe-se os ombros, e desta forma passa o estreito da garrafa, e já está.


Pois bem, aquilo que irei partilhar com vocês tem a ver com o consumo de álcool pela pessoa autista. E o processo é muito semelhante ao que foi anteriormente descrito - encolhe-se (metaforicamente falando)!


Vamos por partes. Muitos de vocês já perceberam que há uma percentagem considerável de pessoas autistas que apresentam uma outra condição psiquiátrica. Nomeadamente, muitas pessoas autistas também apresentam PHDA (perturbação de hiperactividade e défice de atenção). E esse facto por si só aumenta a probabilidade de risco para o consumo de álcool, mas não só. Sendo que o autismo é olhado como um factor protector para o consumo de álcool (e não só).


Contudo, a pessoa autista, mesmo que não apresente uma PHDA em comorbilidade, apresenta todo um conjunto de outros factores de risco para o consumo de álcool. Por exemplo, o facto de se continuar a verificar um número considerável de diagnósticos de autismo tardios na vida adulta aumenta significativamente esse risco. E porquê? Porque há todo um sofrimento psicológico associado a esse factor. Para além de haver uma maior propensão de ansiedade e depressão ao longo da vida, além de experiências traumáticas.


Ou então, no caso das raparigas/mulheres, em que se verifica haver uma maior propensão de situações de camuflagem social (i.e., desejo de pertença e ser aceite). Isso levará a uma maior propensão a comportamentos de consumo de álcool tendo em conta o efeito de desinibição social que este tem.


Mas também o facto de se verificar associado ao autismo situações de Alexitimia (i.e., dificuldade e/ou ausência de percepção da variação emocional própria e/ou nos outros) e/ou de Anedonia (i.e., ausência de prazer). O que leva a potenciar uma sensação de desmotivação pelo próprio e pela vida e que a pessoa pode sentir que o consumo de álcool a poderá levar a sentir algo que habitualmente não sente.


Mas principalmente parece que o facto da pessoa autista passar um grande período de tempo da sua vida sem ser diagnosticado, vulnerável a todo um conjunto de experiências já por si traumáticas. A acreditar que ela própria é que é diferente e responsável por aquilo que lhe tem acontecido. Ou até mesmo naquelas que já tendo o diagnóstico continuam a ter de lutar diariamente contra o estigma e dificuldade em fazer parte da Sociedade quando é um direito seu. Estas são as situações que mais parecem potenciar o consumo de álcool e posteriormente e de uma forma conjugado com outros factores psicossociais a situação de um quadro de alcoolismo acabar por surgir e se instalar.


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