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Como seres autista

Foto do escritor: pedrorodriguespedrorodrigues

"Autism can't define me.

I define autism"

Kerry Magro


Como seres autista. O titulo é bastante provocatório, assim como muitos acontecimentos na vida das pessoas autistas. Mas por detrás destes titulos há sempre uma história para enquadrar.


Quando as pessoas são diagnosticadas com Perturbação do Espectro do Autismo a partir dos 18 ou mais anos, as pessoas que os conhecem têm uma determinada ideia acerca de si. Assim como a própria pessoa acabada de diagnosticar. Mas é frequente que ao fim de algumas semanas passamos a ouvir algumas pessoas a dizerem que aquele recentemente diagnosticado parece estar a ficar ou tornar-se mais autista. Para além do habitual - Mas não pareces nada autista! Ou, Como é possivel seres autista tendo em conta que és tão funcional e capaz?! Principalmente as pessoas autistas sabem destas e de muitas outras frases ditas por pessoas com um grande desconhecimento sobre o autismo e as pessoas autistas, e que ainda assim parecem não querer procurar saber ou escutar a explicação do que é o autismo.


Como seres autista faz todo o sentido, principalmente quando o diagnóstico é tardio e acontece na vida adulta. Porquê? Porque de uma forma ou de outra, as pessoas autistas foram procurando perceber e saber quem são. Tentando adaptar-se, muitas vezes de uma forma sentida por si como violenta e agressiva. E ainda assim sentirem na maior parte das vezes que eles é que estão a fazer algo errado ou mal. E que comparativamente a todas as outras pessoas, eles não prestam, não sabem fazer as coisas, não são seres humanos capazes. Mas ainda assim, no meio de todas estes desafios e dificuldades, muitas delas que se traduzem em sofrimento psicológico e mal estar ou surgimento e agravamento de comorbilidades psiquiátricas, procuram construir algum sentido e significado da sua vida. Seja este significado e sentido ancorado naquilo que muitas raparigas e mulheres autistas, principalmente elas, tentam alcançar através da camuflagem social - uma aceitação da personagem criada por si no grupo de pares. Mas também um sentido e significado, muitas vezes pautado por um maior isolamento social. Ainda que este não tenha de ser somente parte de uma das suas características do diagnóstico. Muitas vezes, parte deste isolamento social faz parte da reacção das pessoas autistas ao contante mal trato por parte da Sociedade. Ou então do maior desconhecimento e não compreensão das regras e de um Mundo construído para pessoas não autistas.


E como tal, as pessoas autistas diagnosticadas tardiamente sentem que querem aprender quem são e como haverão de querer continuar a ser, à luz do conhecimento desta nova informação - serem pessoas autistas. Seja o serem autistas, compreenderem-se e compreenderem o seu Self, como dizerem ou partilharem aos outros o seu diagnóstico, procurar e pesquisar mais coisas dentro do espectro do autismo, procurar as suas necessidades e ir ao encontro delas e de como as satisfazer, gerir os seus desafios quotidianos, aprender a ser autêntico e principalmente dentro do ser autista, descobrir a sua tribo, aqueles com quem melhor se identifica, mas também aceita e é aceite assim como é, e encontrar um propósito de vida. Não são coisas novas para qualquer um de nós que já entrou ou se está a preparar para entrar na vida adulta. E é igual para as pessoas autistas, ainda que o caminho e a expressão ao longo deste caminho possa ser diferente.


Mas como ser autista? Até porque quando sabes que és autista, também descobres, e de uma maneira mais visivel, de que é assustador ser autista! Não necessariamente para ti, ainda que descobrir ser autista na vida adulta cause algum espanto. Mas uma grande maioria sente um alivio por saber que afinal há um nome e uma forma de se poder compreender. O susto tem a ver com a reacção dos outros. Pois ao longo da vida esta pessoa autista foi sendo olhada como estranha. Ao longo da vida esta pessoa autista foi ouvidno várias pessoas referirem-se de forma negativa ao autismo e às pessoas autistas. Ao longo da vida a pessoa autista foi também percebendo o quanto dificil é este Mundo aceitar e celebrar a diferença. Por isso, quando chega a altura logo a seguir ao diagnóstico, a pessoa autista pergunta-se - Como é que eu posso ser autista? Como é que eu vou ser autista dentro deste Mundo? Mas o certo é que para ser autista basta apenas sê-lo!


Há a parte do diagnóstico de autismo e depois há o como ser autista. O diagnóstico de autismo é uma identificação médica e psicológica daquilo que são as suas características e que define o seu perfil de funcionamento. Depois há que descobrir e construir a sua identidade enquanto pessoa autista. As duas coisas estão interligadas e funcionam de uma forma conjunta e interdependente. Mas o como ser autista é um caminho que vai ser trilhado pela própria pessoa. Além da própria heterogeneidade e variabilidade encontrada no espectro do autismo. Há também esta heterogeneidade e variablidade do caminho que cada uma das pessoas autistas faz para descobrir e construir a sua identidade. Várias das suas características já eram conhecidas, até porque esta pessoa autista foi diagnosticada em adulta. Contudo, nesta altura está a começar a aprender a olhar com uma outra perspectiva sobre estas mesmas características. Principalmente sem um olhar tão autocritico como foi sendo até então. Estes novos nomes que está a aprender a usar para olhar estas suas características vêm em parte do enquadramento compreensivo do diagnóstico. Mas também do reflectir que a própria pessoa autista faz em relação a elas e a si e de como lhe faz sentido pensar nelas. Outras das suas características não eram propriamente conhecidas ainda que sejam existentes. Mas quando a pessoa autista começa a procurar informação sobre o espectro do autismo. Ou então ocmeça a conversar com outras pessoas no espectro do autismo, ela vai começar a aprender novos aspectos seus e que afinal sempre foram estando mais ou menos presentes.


Por isso, quando a pessoa adulta ouvir perguntar sobre o porquê de ir procurar o diagnóstico de autismo! Ou de que parece que não faz sentido ir procurar o diagnóstico de autismo! E que a pessoa sempre foi sendo capaz de fazer as suas coisas na vida e que como tal não faz sentido procurar o diagnóstico de autismo! Cabe à pessoa autista em questão saber o que deseja fazer, até porque se trata da sua vida. Mas a minha opinião clinica e pessoal é de que a pessoa autista pode e deve ir procurar o diagnóstico de autismo. Até porque não se trata apenas do diangóstico, mas principalmente de a partir daí poder continuar a compreender e construir a sua vida. E por isso faz todo o sentido prosseguir e procurar o diagnóstico de autismo.


Após procurar a pessoa/intituição onde realizar o seu diagnóstico de autismo, é altura de pensar sobre a importância de ser/fazer acompanhamento psicológico e médico. O acompanhamento psicológico e a terapia é um espaço terapêutico onde se pode encontrar, conhecer e construir em segurança. E este espaço e tempo é onde pode ensaiar estes passos para o fazer, para o ser, e principalmente para como ser autista. Sendo óbvio que esse espaço deseja ser alargado para todos os outros onde a pessoa autista vai estar, no Mundo. Mas mais do que estarmos a querer fazer com o que Mundo aceite, vamos procurar em conjunto na viagem terapêutica com a pessoa autista, que ela se descubra como tal, e que possa advogar os seus direitos e identidade no Mundo enquanto pessoa autista. Assim, onde quer que ela esteja, será sempre ela própria!


Esta viagem de como ser autista é maior do que este texto, e por isso continuará à medida do caminho percorrido...


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