Poderíamos pensar pelo titulo que iriamos falar sobre as dificuldades das pessoas autistas, certo? Mas não é bem assim. Mas já lá vamos. Conseguem perceber o que o senhor sentado no sofá poderá estar a pensar? Torna-se difícil, eu sei. Perceber o que a pessoa pode estar a pensar e sentir através da observação é uma tarefa árdua e por vezes mesmo impossível. O homem sentado no sofá é o António (nome fictício). Está numa sessão de psicoterapia. O António é autista. Descobriu-o há quatro anos atrás. É verdade. O António demorou trinta e cinco anos a descobrir que é autista. Na verdade o António sempre soube o que era, não sabia era o nome. Mas ao fim de todos aqueles anos em que tinha procurado vários psicólogos, António não tinha desistido. Sabia que muitas das suas coisas haveriam de ter uma compreensão. Nem sempre sentira que os vários psicólogos a que tinha recorrido tivessem essa mesma sensibilidade e compreensão. Ouviu de tudo um pouco. Algumas das coisas foram desagradáveis. Não se sentiu acolhido principalmente. Mas também não se sentiu escutado naquilo que era a sua sensibilidade face ao que foi vivendo e sentindo ao longo do ano. Mas além da necessidade de se compreender. António tinha todo um conjunto de dificuldades de ordem emocional e com sofrimento psicológico associado. António precisava de ajuda. As pessoas autistas apresentam uma maior probabilidade de virem a ter problemas de saúde mental. E é sabido que há um conjunto de terapias psicológicas com efeitos promissores na melhoria destes sintomas. Mas ainda continuamos a verificar todo um conjunto de desafios na garantia e apoio ao acesso das mesmas. Mas de que barreiras podemos nós estar a falar? Há ideia de haver um conjunto de dificuldades sentidas pelas pessoas autistas e que pode dificultar o processo de procura de ajuda especializada. É sabido que muitas pessoas autistas, nomeadamente crianças e jovens, parecem não ver benefícios e necessidade de acompanhamento psicológico. No entanto, esta ideia não é muito diferente daquilo que se encontra em crianças e jovens não autistas, e que se prende com a sua menor capacidade de insight em relação à sua situação. Também é sabido de algumas possíveis dificuldades no estabelecimento da relação terapêutica com pessoas autistas. Mas e que barreiras é que as próprias pessoas autistas sentem no acesso e no processo de acompanhamento psicológico? A barreira mais comumente relatada parece ser a falta de conhecimento ou experiência do terapeuta em relação ao autismo. Mas também uma incapacidade ou falta de vontade por parte do terapeuta para adaptar as suas abordagens para apoiar as necessidades das pessoas autistas na intervenção. Estas afirmações parecem ser muito duras. Mas pensemos naquilo que as pessoas autistas sentem ao não sentirem ser acolhidas e integradas no processo de ajuda? Apesar de não haver ainda muito trabalho realizado nesta área, mas já vai sendo falado da necessidade de adaptação das técnicas e metodologias de intervenção habitualmente usadas quando se trabalha com pessoas autistas. Ou seja, por norma o modelo de intervenção comumente usado e validado é o Modelo Comportamental e Cognitivo. No entanto, é fundamental ter em conta da necessidade de adaptar algumas estratégias consoante a pessoa com quem estamos a trabalhar. E no Espectro do Autismo esse facto faz ainda mais sentido. Talvez o António possa estar a pensar que aquilo que a actual terapeuta na imagem lhe está a dizer não lhe faz sentido e não está a ir ao encontro das suas necessidades.
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