barreira
(bar.rei.ra)
Aquilo que restringe ou impede o acesso ou a circulação. Equivalente a obstáculo;
Separação ou tapume que circunda ou separa um recinto reservado da parte que é destinada ao público;
O que impede a comunicação ou o entendimento (e.g., barreira ideológica, barreira linguística). Equivalente a dificuldade, obstáculo.
Barreira. Podemos encontrar esta definição num dicionário. Mas muitas pessoas autistas encontram em qualquer sitio. Em casa junto da família, na escola junto dos professores e colegas, novamente na universidade, mais tarde no local de trabalho, no supermercado, transportes públicos, no transito, na rua, na relação com as pessoas, na escola dos filhos, nas consultas, no local de trabalho quando mudam.
Como se percebe são muitas as barreiras. E muitas destas barreiras nem se prendem com a pessoa autistas e as suas características. Tem a ver com as barreiras que as outras pessoas não autistas criam, colocam ou que são as suas próprias barreiras. Todos temos barreiras. Até o dicionário. E precisamos de olhar para as barreiras de todos. Até para conseguir fazer baixar ou remover as barreiras.
No local de trabalho tenho dito várias vezes que os números de empregabilidade das pessoas autistas adultas é horrível e desumano. Entre 70% a 80% das pessoas autistas adultas não estão a trabalhar, empregadas, com um contrato de trabalho. 80% de cerca de 5 milhões de pessoas autistas na Europa são muitas pessoas autistas. E sem estarem a trabalhar não conseguem assegurar a sua autonomia e independência. E nesse caso estaremos todos a falhar!
Mas para tentarmos perceber porque razão existem tão poucas pessoas autistas a trabalhar podemo-nos perguntar quais as razões que os empregadores têm sobre as pessoas autistas e que os pode levar a não contratarem pessoas autistas em condições iguais a outra pessoa não autista!?
Até porque apesar de haver uma Lei 4/2019 que prevê cotas para a contratação de pessoas com deficiência em empresas com 75 ou mais trabalhadores. Além de existirem outros incentivos para a contratação de pessoas com deficiência. Aquilo que se verifica é que os números de contratação de pessoas com deficiência está aquém do necessário e exigido enquanto direitos humanos. E se esses números estão aquém nas pessoas com deficiência, dentro destas ainda estão piores nas pessoas autistas. E como tal, percebemos que apesar da legislação a mudança do comportamento dos empregadores vai demorar a acontecer. E por isso voltamos à importância de compreender qual a percepção que estes têm em relação à contratação de pessoas autistas. Até para os ajudar a esclarecer as suas dúvidas para que estas dúvidas (barreiras) possam deixar de fazer sentido.
A primeira e principal barreira tem a ver com o desconhecimento dos empregadores sobre o autismo e as pessoas autistas. Isso mesmo, desconhecimento. Apesar de se falar de autismo há cerca de 1 século, ainda temos este nível de desconhecimento.
Depois temos uma ausência de atitude positiva face ao autismo. Além de um conjunto de crenças enviesadas e erradas sobre as competências das pessoas autistas e qual o perfil de trabalho, actividade e profissão para o qual a pessoa autista estará mais preparada. E não, não é para programador ou informático!
Se o desconhecimento sobre o autismo é um factor preponderante e que explica a não contratação de pessoas autistas não fará sentido tornar mandatório a literacia sobre saúde mental aos empregadores? Estamos à espera que as pessoas, neste caso os empregadores, mudem porque há uma nova lei para a contratação de pessoas com deficiência? Ou porque agora temos cada vez mais empresas a aderirem à responsabilidade social? Se já percebemos que é preciso construir um maior e melhor conhecimento sobre o autismo junto dos órgãos decisores das empresas porque não criar um mecanismo que obrigue a esse conhecimento?
Pode parecer estranho e até mesmo pouco democrático. No entanto, quando os empregadores passam a conhecer mais e melhor sobre o autismo e as pessoas autistas mudam a sua percepção e atitude e passam a fazer a contratação de pessoas autistas, assim como a fazer as necessárias acomodações para as pessoas autistas que já trabalhavam consigo e que não tinham feito menção dessa questão. Se é mandatório que as empresas e os trabalhadores tenham um número obrigatório de horas de formação por ano, porque não obrigar a que uma percentagem dessa formação seja sobre o autismo e a saúde mental de uma forma global?
A barreira, esta como outras existentes, parece ser tão ténue, mas ao mesmo tempo tão forte e perpetuadora desta desigualdade.
Comments