Há alguns meses atrás a ideia de realizar uma avaliação de despiste de Perturbação do Espectro do Autismo de forma remota por videoconferência seria impensável por muitos. Fossem as próprias pessoas, algumas ainda descrentes em relação às potencialidades da intervenção realizada à distância na área da saúde, nomeadamente na saúde mental. Mas também de muitos profissionais de saúde, mesmo até de alguns que já iam realizando alguns acompanhamentos psicológicos à distância, mas que ainda assim sentiam que o processo de avaliação seria impensável realizado remotamente. O certo é que a situação pandémica continua ainda hoje entre nós, e como tal a necessidade das pessoas serem avaliadas ao longo deste último ano foi-se avolumando. E se num período inicial foi possível de parte a parte pensar-se em fazer o adiamento, a partir de determinada altura foi possível compreender que teríamos de resolver as necessidades das pessoas. Ainda assim, as resistências destas mantiveram-se, apesar de todos os avanços verificados na saúde digital. E na área da saúde mental, independentemente dos avanços tecnológicos e que podem causar resistências, as maiores dificuldades são sentidas ao nível relacional. E se pensarmos no diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo é importante sublinhar que este é principalmente clinico e realizado na relação entre o profissional de saúde e a pessoa que o solicita. É verdade que é importante pensar na adaptação dos instrumentos que são usados, nomeadamente o ADOS-2 módulo 4, instrumento de observação usado nas pessoas com mais de 16 anos. Contudo, a avaliação de despiste de Perturbação do Espectro do Autismo em pessoas adultas pode ser realizada em condições adequadas à distância por videoconferência E quanto ao receio de algumas pessoas de que a partir de agora as pessoas já não quererão sair de casa e passar a fazer tudo à distância isso não corresponde à verdade. Nomeadamente as pessoas autistas que têm realizado avaliação e acompanhamento à distância neste período têm referido que continuam a preferir o contacto frente a frente feito presencialmente. E não porque o contacto à distância não seja sentido como positivo, mas sim porque sentem que continuam a preferir o presencial. Ainda assim, referem a importância que esta adaptação à avaliação e acompanhamento à distância teve para muitos deles. Por exemplo, muitos referiram que apesar de fazerem inúmeras pesquisas sobre vários temas, no decorrer da pandemia estiveram mais activos. E que também por isso foram muitos aqueles que durante este período ficaram com uma ainda maior suspeita de poderem ter um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo. Facto que os levou a sentir uma grande frustração visto que pensavam que não conseguiriam obter uma resposta face às suas questões tão cedo devido às restrições colocadas. Além do mais, muitos outros foram sentindo durante este período que esta seria a altura ideal para realizar a sua avaliação, até porque teriam o enquadramento adequado para solicitar um avaliação realizada à distância. Enquanto outros, sentindo que estão mais afectados pela própria situação de contágio e o receio que isso lhes causa directa ou indirectamente, o facto de terem esta solução à distância é importante. Mas também todos aqueles que apesar de serem adultos, não são suficientemente autónomos para se deslocarem até às consultas, seja porque não têm carta de condução ou então porque têm maiores dificuldades na deslocação nos transportes públicos. E outros que estando a viver em determinado país em que além da situação pandémica, vêm a resposta do Sistema Nacional de Saúde do seu pais com uma resposta pouco célere em relação ao seu pedido, acabam por sentir que podem recorrer ao serviço de avaliação em outro pais, visto que a distância se encurta dentro desta modalidade online.
top of page
bottom of page
Commentaires