O surrealismo, enquanto movimento artístico e literário surgiu em Paris em 1920 e tem um conjunto de artistas dos quais se destaca Rene Magritte e daí a imagem usada neste texto - "Ceci n'est pas une masque"(trad. Isto não é uma máscara). Este movimento caracterizado pela combinação do representativo, abstracto, do irreal e do inconsciente, mais do que um movimento estético, procurou criar uma cosmovisão sobre o Mundo. E vocês perguntam-se - O que é que isso tem a ver com o Autismo? Ultimamente fala-se muito sobre a camuflagem social (máscara social) na Perturbação do Espectro do Autismo. Eu próprio já tenho falado aqui e não só sobre o tópico. E normalmente quando se fala muito sobre um tema corremos o risco de assumir que todas as situações se enquadram dentro deste. Ou seja, parece que ultimamente se tem passado a assumir que quando uma pessoa com Perturbação do Espectro do Autismo tem um comportamento pró social, é porque está a fazer camuflagem social. Portanto, a pessoa sendo do Espectro do Autismo não terá nunca essa competência social, pelo menos não de uma forma intrínseca, ou sequer a usará de uma forma espontânea. Será sempre, ou quase sempre, de uma forma dissimulada para que se possa integrar socialmente e ser aceite. E isto tudo não retira a existência do comportamento de camuflagem social, nomeadamente usada no Espectro do Autismo. Sim, algumas pessoas no Espectro do Autismo usam-na. Mas isso também é verdade para tantas outras pessoas não autistas. E o facto da pessoa no Espectro do Autismo procurar adequar-se socialmente pode ser porque sente essa necessidade. E em parte esta situação também é causada por um discurso demasiado centrado nos critérios de diagnóstico, características comportamentais e deficits, normalmente reproduzido por muitos de nós profissionais de saúde. Não que toda esta informação não seja importante, que o é. Mas devemos pensar no impacto que a mesma vai tendo na compreensão que as pessoas fazem da pessoa com Perturbação do Espectro do Autismo, sejam estas neurodivergentes ou neurotipicas. A expressão comportamental da pessoa no Espectro do Autismo é suficientemente abrangente e heterogénea para abarcar uma multiplicidade de expressões. Isto quando a informação que consta em manuais como a DSM pareça advogar o contrário. Até porque no limite parece que estamos a olhar para a pessoa no Espectro do Autismo como não tendo competência para nada. Eu sei que a frase é dura, mas se pensarmos, a pessoa no Espectro do Autismo apresenta um conjunto de características comportamentais com compromisso na interacção e comunicação social e com comportamentos e interesses restritos e repetitivos. E além do mais quando apresenta determinados comportamentos pró sociais, é porque os está a simular. Na verdade será importante não assumirmos que as pessoas são isto ou aquilo, e que têm estes ou aqueles comportamentos e se o fazem então é porque querem alcançar algo. É fundamental o respeito e a compreensão da pessoa. Isso não é algo tão surreal assim, pois não?
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