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Foto do escritorpedrorodrigues

Autismo nos tempos de guerra

Muitos ficaram com a ideia de já ter um titulo semelhante algures, certo? E já leram, sem dúvida. E porventura até leram o livro ou viram o filme - O amor nos tempos de cólera de Gabriel Garcia Marquez. Além disso, muito também deverão conhecer ou já ter visto algures pela internet a fotografia que acompanha o texto, correcto? Sem dúvida que se trata do genial Banksy com a obra Bomb hugger girl.


Ontem, a Rússia iniciou a guerra contra a Ucrânia. Perdoem-me a designação guerra, pois não sou nenhum estratega politico ou militar, e muito menos comentador de televisão. Poderia chamar-lhe invasão, conflito armado, missão de resgate face a um pedido de ajuda dos separatistas ucranianos, etc.


Mas aquilo que vos quero falar é de como é que as pessoas autistas vivem a guerra. Isso mesmo, a guerra. E sublinho que não estou a usar nenhuma metáfora para me referir ao quotidiano das pessoas autistas e das suas famílias. Estou mesmo a falar de guerra, conflito armado. Como é que as pessoas autistas vivem a guerra e em cenários de guerra?


Sendo que as pessoas autistas o são ao longo da vida. E se pensarmos em algumas zonas do planeta em que tem ou vai continuando a haver guerras, guerrilhas e conflitos armados. Como é que as pessoas autistas vivem estas experiências?


Por exemplo, como é que no momento actual, em que um número incalculável de famílias estão a procurar urgentemente sair da Ucrânia conseguem organizar este processo com crianças, jovens ou adultos autistas? E como é que estes reagem face a este conjunto de imprevistos tão difíceis para todos nós. O soar da sirenes nas cidades. Os avisos constantes nas televisões e nas rádios. Os bombardeamentos! Os inúmeros disparos e as pessoas a gritar enquanto correm de um lado para outro.


E se muitas pessoas autistas e as suas respectivas famílias se questionaram acerca do acompanhamento médico, psicológico e outro. De como é que este iria ser continuado. E o que fazer nas interrupções. Imaginem como será num cenário de guerra! Podemos sempre pensar que no meio de uma guerra há coisas que não se pensam ou que passam para um segundo plano. Compreendo a ideia, mas o certo é que as pessoas continuam a sua vida e a sentir a mesma tal qual. E a ter todo um conjunto de necessidades sejam de que natureza ou ordem for.


Na Europa ou na América há quem tenha desenvolvido alguns materiais pedagógicos (livros, filmes, etc.) para ajudar a explicar às crianças o que é a guerra. Até para as ajudar a integrar todo um conjunto de informação variada que ouvem. Mas como é que se faz para explicar a uma criança, jovem ou adulto autista que está a viver na primeira pessoa uma guerra?


Agora é na Ucrânia, mas os Balcãs já tiveram recentemente outras situações de conflito armado. E então em África com os inúmeros conflitos e guerrilhas locais. Ou na América do Sul, por exemplo na Venezuela. E o que dizer do conflito Israelo-Palestiniano? Ou Síria? E de todos aqueles que ao longos destes últimos anos têm encontrado refugio e muitos deles, crianças, jovens e adultos vivem em condições infra-humanas nos campos de refugiados. E sim, nos campos de refugiados também encontramos pessoas autistas, assim como com outras condições.


Para que serve uma guerra? pergunta alguém. E por mais respostas que possamos obter de qualquer um de nós, mais ou menos especialista na sua área. A minha resposta será sempre - Para nada! Será importante nesta e em qualquer outra altura pensar nas necessidades que qualquer cidadão no Mundo possa ter. Agora estamos a falar de como reagir a uma situação de guerra. Mas no caso das pessoas autistas, viver sem diagnóstico ou diagnóstico tardio, ausência de respostas especializadas para a intervenção, estigma face ao diagnóstico, falta de autonomia e independência devido à incompreensão da Sociedade. Todos estes cenários são situação causadores de um impacto semelhante aos vividos numa situação de guerra. E se pensarmos, em alguns locais do globo, por exemplo em África, América do Sul, Palestina, Síria, etc., são países e no caso de África todo um continente, em que mesmo fora dos conflitos armados, as necessidades das pessoas autistas continuam em muito sem uma resposta adequada.


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