Ela não pode jogar softball. Não vai conseguir encaixar-se no ambiente de equipa, diziam. Ele não pode fazer parte da equipa de golfe. Será uma perturbação para os outros golfistas, sussurravam. Não sabe nadar a nível competitivo. Não tem força nem coordenação, argumentavam. Não pode tornar-se uma corredora competitiva. Não consegue lidar com as multidões, afirmavam.
Estas e outras frases semelhantes são ouvidas frequentemente quando a conversa envolve uma pessoa autista. E ainda mais quando se ouve falar dessa pessoa autista praticar uma actividade desportivo. E se for para essa pessoa vir a treinar a nível competitivo vão pensar que é uma brincadeira.
Sabem quem é a pessoa que está na imagem? Posso dizer-vos que não é uma foto minha na minha recente prática de surf. A pessoa na imagem chama-se Clay Marzo. Vão pesquisar sobre ele e depois digam-me se a ideia de uma pessoa autista se tornar um atleta profissional é ou não possível.
As pessoas autistas participam significativamente menos em actividades desportivas e no desporto do que seus pares neurotipicos. No entanto, quando conhecemos muitas das pessoas autistas. E ao longo deste processo vamos construindo uma ideia mais clara da pessoa, conseguimos perceber não só os seus interesses e necessidades, mas também porque é que durante determinado tempo não foram realizando certas actividades.
Mas para tal foi preciso aprender a conhece-la.
Não vou demorar muito a escrever sobre os benefícios para a saúde física e mental que a prática de uma actividade desportiva pode trazer para a pessoa. E que no caso da pessoa com uma Perturbação do neurodesenvolvimento pode potenciar os seus ganhos a vários níveis. A informação parece-me tão consensual que se torna quase ridícula estar a afirma-la. E se pensam nas barreiras existentes para a prática de uma actividade desportiva, digo-vos que a grande e quase única barreira existente é a existência de crenças e estereótipos criados por pessoas neurotipicas acerca da pessoa autista.
Seja as supostas barreiras relativas à interação pessoal, ou aquelas relativas ao contexto da prática desportiva e das questões sensoriais, etc. Todas elas e mais algumas são ultrapassáveis, tal como o são em qualquer outro contexto e prática. E volto a sublinhar a importância de aprender a conhecer a pessoa. Mais do que querer insistentemente que ela comece a fazer a prática da actividade em questão.
O facto de poder haver uma pessoa na qual se centra as competências para trabalhar com estes atletas. Que na prática irá funcionar como um treinador, mas com competências adicionais de um coach desportivo, é fundamental. Seja porque é um profissional conhecedor da área desportiva, mas também porque está sensibilizado para a neurodiversidade. Além do mais irá ser benéfico o facto de ser a mesma pessoa e que irá trabalhar de forma consistente com o atleta.
Quando soubermos sair da nossa perspectiva formatada de que uma qualquer actividade tem apenas uma só forma de ser realizada e treinada. Nessa altura estaremos capazes de poder estar com a pessoa e esperar que ela nos aceite. E nesse momento estaremos capazes de estar na onda com ela.
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