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"Andar de cima": As infinitas possibilidades no Espectro do Autismo

Perguntavam-me uns pais um destes dias - "Mas há alguma coisa que não apareça no Autismo?". A heterogeneidade verificada no Autismo é grande. E aumenta quando associamos um conjunto igualmente grande de outras perturbações psiquiátricas. Pais, jovens e adultos autistas, professores e clínicos, todos precisam de estar sensibilizados.

Quanto mais subimos esta escada do conhecimento acerca do Autismo maior o número de situações clinicas diferentes encontradas. Já é sabido desde há algum tempo da existência de um diagnóstico de Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) associado a um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). A prevalência destes casos ronda os 30%. O valor é muito semelhante para as Perturbações do Humor (Depressão) e de Ansiedade. Ainda que com uma menor expressão a Perturbação Obsessivo-Compulsiva é uma outra situação que ocorre em paralelo. Cerca de metade dos casos de Autismo apresentam associado um deficit cognitivo. O número de casos com um quadro de epilepsia associado é grande. Mas também determinadas síndromes genéticas.


A lista parece interminável. É verdade que esta panóplia de quadros clínicos não ocorrem todos na mesma pessoa. Mas o impacto de qualquer um destes diagnósticos associados à PEA agravam o prognóstico e decurso da própria condição de vida e bem estar da pessoa e da família. É importante que a avaliação e despiste destas outras condições seja realizada. A própria intervenção a nível psicológico e a sua própria eficácia está dependente da conceptualização do caso e da história clinica. A maior resistência na intervenção ou a determinadas metodologias de intervenção vai depender da situação clinica encontrada. A necessidade de hierarquizar as áreas de intervenção consoante a gravidade apresentada é fulcral. Mas também a possibilidade de se equacionar a intervenção farmacológica.


Entre outras dificuldades a semelhança nos comportamentos observados na PEA e em outras condições pode ser grande. Por exemplo, a existência de comportamentos ritualizados na PEA e a POC. Ou as dificuldades na interacção social na PEA e na Ansiedade Social. A dificuldade em conseguir fazer uma leitura dos acontecimentos na PEA e no deficit cognitivo, etc. Um clinico experimentado em observar casos de autismo e com uma formação complementar em psicopatologia do desenvolvimento estará mais capaz de fazer esta distinção e ainda assim em alguns casos com algumas reservas. Mas de uma maneira geral a dificuldade sentida é grande.


Uma outra questão que tem sido trazida para a discussão, ainda que em menor grau que qualquer uma das questões acima referidas, mas com uma gravidade igualmente marcada é a existência de sinais de psicose em pessoas com PEA. A psicose em crianças é rara na frequência. Ainda assim verificam-se cerca de 1 em cada 100 crianças. A questão é que no Autismo há uma maior probabilidade comparativamente ao grupo normativo de encontrarmos sinais de psicose (3 em cada 100 autistas). Tal como no autismo ("Rain Man"), na psicose há uma representação mental construída desta condição que passa pelo filme - "Mente Brilhante". Esta representação não favorece uma identificação facilitada de sinais de psicose num quadro já em si complexo de autismo.


Por exemplo, um caso de um jovem de 17 anos que apresenta um quadro comportamental complexo e que entre outras situações observadas diz ter duas pessoas no seu pensamento e que um dessas pessoas influencia o seu comportamento pode ser lida como uma situação de psicose. No entanto, e atendendo a todo o restante quadro e se encontrar vários outras evidências comportamentais ao longo do desenvolvimento como sinais de PEA. O jovem corre o risco de ser encaminhado para um acompanhamento na área do autismo e as dificuldades associadas aos sinais de psicose serem negligenciados. Ou uma outra situação em que uma jovem de 14 anos apresenta um discurso marcadamente paranóide mencionando preocupação em ser vitima de tentativa de envenenamento pode ser avaliada como uma preocupação mais marcada do espectro do autismo. Os casos são meramente ilustrativos mas chamam a atenção para uma realidade necessária de ser atendida.

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