Nos dias que correm, com idas ao Shopping para as prendas de última hora, preparação do menu de Natal, arrumação e preparação de todos os detalhes para as visitas. Só de escrever fico cansado. E ainda não se recuperou do Natal e já está o Ano Novo à porta! E ainda dizem que janeiro é para começar a pôr em prática as resoluções de final de ano?! Só podem estar a brincar. A não ser que a resolução seja: descansar, descansar, descansar!!
Ainda há pouco, um amigo e colega de profissão me perguntava se tinha conhecimento do conceito de Social Battery no autismo. E por isso agradeçam-lhe o texto!
Apesar de ser um termo que aparece mais recentemente, não sinto que seja uma novidade. Até porque vários de nós já tivemos que colocar em prática algumas das medidas para conseguir equilibrar a sua bateria. Ou então, pessoas com uma doença auto-imune e que necessitam de em determinados momentos calcular o gasto energético que determinada tarefa, acção ou comportamento possa representar, e com isso tomar uma decisão da pertinência de o fazer.
Um dos aspectos que várias pessoas autistas se queixam prende-se com o esgotamento que sentem ao realizar tarefas normais e quotidianas. Uma simples conversa pode representar um gasto incomportável de energia. Quando para alguns de nós isso possa ser irrisório. Ou uma ida a uma festa ou às primeiras aulas da manhã. Algumas outras pessoas autistas, principalmente as raparigas/mulheres, têm trazido esta questão do esgotamento de energia, física e psicológica, principalmente associado à utilização da camuflagem social.
Ou seja, quanto mais camuflagem social, mais o esforço envolvido, além da maior ansiedade em poder vir a ser descoberto. E por conseguinte isso vai resultar num gasto de energia gigantesco e que leva a pessoa autista a ficar drenada de energia e sentir que nos próximos dias a seguir ao evento/acontecimento/situação não consegue fazer mais nada a não ser ficar deitada na cama. E não é por acaso que algumas destas raparigas/mulheres acabam por receber o diagnóstico de Depressão. Até porque alguns destes comportamentos e reacções parecem mimar aqueles observados numa pessoa deprimida. E se associado a isso acrescentarmos uma menor expressiva facial e emocional, conseguimos compreender ainda melhor.
E já agora aproveito para dizer, principalmente àqueles que não são do espectro, que algumas vezes as pessoas autistas optam por não participar em momentos sociais ou em determinadas interacções sociais porque sentem que vão ficar esgotados a seguir. E como tal procuram fazer uma gestão racionada da sua Social Battery. E as pessoas não autistas não fiquem a pensar que também se sentem cansados a seguir a uma ou outra festa e que isso é igual e que também conseguem tolerar.
Em primeiro lugar é importante referir que esta bateria, seja vista como social ou não, vai ser afectada por aquilo que muito frequentemente está presente no espectro do autismo - as hipersensibilidades. Ou seja, a pessoa autista desde sempre e quando apresentando questões sensoriais como a hipersensibilidade a determinados estímulos, vai sentir ao longo da sua vida este constante esvaziar da sua bateria. Ou seja, não é apenas nesta ou naquela festa especifica. É algo que acontece desde sempre e que irá continuar a acontecer, até porque as questões sensoriais na pessoa autista estão na responsabilidade directa do Sistema Nervoso Autónomo e como tal a pessoa não tem um controlo directo e racional sobre esta afectação. E com tal, aquilo que a pessoa autista pode e deve fazer é proteger-se. Mas como? Precisamente gerindo a sua Social Battery.
Ou seja, desde a utilização de alguns equipamentos que ajudem a reduzir o impacto do estímulo sensorial (e.g., tampões com redução activa de ruido, óculos com lentes escurecidas, etc.). E que servem o propósito de no quotidiano reduzir a carga sensorial sentida e com isso o esgotamento físico e psicológico. E que por conseguinte pode ajudar a pessoa autista a gerir a sua actividade social, profissional e pessoal de uma outra forma. Mas também poder gerir o tempo em que participa em determinadas actividades, nomeadamente sociais, e que acabam por ter um impacto maior neste esgotamento da sua bateria. Como tal, a pessoa autista poderá ir ao Arraial do Técnico ou ao jantar da Tuna Académica, mas fazê-lo de uma forma adaptada à sua situação e necessidade actual, e que pode e deve ser analisada pela própria. Não há um medidor especifico desta bateria, mas pode ser usado uma escala visual análogo, tal qual se faz para a avaliação subjectiva da dor. Ou seja, a própria pessoa avaliar se está com a sua bateria mais ou menos preenchida, ao ponto de poder estar presente na situação social. E ajustar a sua resposta de forma o mais adequada.
Esta questão da bateria não se prende apenas com o carregar ou descarregar. As pessoas autistas apresentam com bastante frequência maiores níveis de ansiedade. E como tal, o estar com menos energia também irá levar a que a pessoa possa estar menos disponível e os seus níveis atencionais sejam menores. E como tal, o sentimento de fracasso e frustração por sentir que não estão a conseguir fazer algo é mais prevalecente. E que por conseguinte irá fazer aumentar a ansiedade. Ansiedade esta que irá levar a que as questões sensoriais estejam mais exacerbadas. E como se pode ver é importante poder considerar estes aspecto de como equilibrar e decidir as tarefas/actividades no quotidiano, de forma a conseguir fazê-las, mas com um ritmo adaptado à própria pessoa.
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