Ainda continuam a acreditar?, pergunta o coelho a olhar para a jovem adulta a tentar caber dentro da toca. Podemos sempre culpar o Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido por Lewis Carroll de Alice no País das Maravilhas. Também podemos continuar a enfiar a cabeça na areia e fingir que estamos a viver uma aventura semelhante à de Alice. Ou então podemos deixar as fantasias para os romancistas e para aqueles que as quiserem viver na sua intimidade, e olharmos para a realidade de uma forma honesta. Não estão a compreender, pois não? Eu já vos enquadro.
Quando as pessoas chegam à vida adulta, algum tempo antes, começam a pensar em ter uma habitação própria, independentemente do regime adoptado, certo? Seja arrendada, comprada, partilhada ou não, importa é poder dar continuidade ao processo de autonomia e independência, e continuar a cumprir os objectivos de vida, correcto? E isso é para todos os adultos. Leram bem, para todos os adultos, independentemente da sua condição.
Uma outra questão que vai ocorrendo na vida adulta das pessoas autistas, são os episódios de desregulação comportamental e emocional. E em algumas situações, estes episódios de forma mais continuada levam à necessidade de uma intervenção "mais musculada". Nomeadamente, pode ser necessário activar o internamento compulsivo da pessoa autista, ou a retirada por um determinado período da pessoa à família. Seja como for, não são medidas consensuais. E sabemos que há outras formas possíveis de agir e até mais precocemente. Por exemplo, se fosse contemplado desde mais cedo a real possibilidade de transição dos jovens adultos autistas para uma residência autónoma. Certamente, que este tipo de paradigma levaria a que toda a intervenção desde o seu inicio pudesse ser concebida de forma diferente.
Mas porque é que eu estou a querer ligar a necessidade de residências autónomas para as pessoas adultas autistas e a medida de internamento compulsivo? Já vão perceber!!
No Reino Unido, neste ano tem sido verificado um acréscimo de 10% da retenção de pessoas autistas adultas nos hospitais ao abrigo do Mental Health Act. E se em 2015 haviam cerca de 1000 jovens e adultos autistas internados em contexto hospitalar. Neste momento o número cresceu para cerca de 1300.
E antes que comecem a pensar que as pessoas em questão precisam de ajuda e de tratamento. Aquilo que está aqui em questão não é negar o tratamento e acompanhamento médico e psicológico. Muito pelo contrário, trata-se precisamente de poder melhorar ambas as respostas.
Como tal, sugere-se aos sucessivos governos que possam olhar para estas e outras realidades e não confundam nenhum programa de realojamento com internamento. Eu sei que rima, mas não tem piada nenhuma. É a vida e dignidade das pessoas que está em jogo.
Comments