A vida desde o seu inicio é feita de mudanças, algumas delas com dimensões consideráveis, ao ponto de serem apelidadas de revoluções. Estas revoluções acontecem ao longo da vida de cada um de nós individualmente. Seja no momento do parto, nas inúmeras transições escolares que vamos fazendo, relações significativas, filhos, empregos, perdas, etc. São bastantes e significativas as revoluções que vão acontecendo. E o mesmo acontece a nós enquanto agrupados em grupos na Sociedade. E ao que parece vamos na 4ª revolução industrial. E já há quem tenha começado a antecipar o surgimento da 5ª revolução com a maior interligação entre as pessoas, máquinas e sistemas, tudo num modelo integrado. Mas quem são estas pessoas envolvidas nestas revoluções. Seremos todos nós? Haverão alguns excluídos? Tal como na Nau dos Loucos pintada por Bosch e também referida por Foucault!? E o porquê de continuarmos ao fim destes anos todos a confinar algumas pessoas, já não em barcos e a envia-los para um lugar longínquo, ou para os asilos. A subtileza e principalmente o estigma face à saúde mental foi-se encarregando de encerrar esta pessoa em si mesma. E todos os demais que não se sentem inseridos nesta categoria parecem sentir-se encarregues de os irem mantendo afastados, perpetuando esta noção de incapacidade. E o porquê desta noção de capacidade parece em muito estar associado ao processo da 1ª revolução industrial e da necessidade de termos pessoas capazes de desempenhar uma função. Até então, as pessoas pareciam andar espalhadas no tecido social. E a necessidade de se encontrar pessoas consideradas capazes para trabalhar levou a seleccionar na Sociedade as pessoas que poderiam cumprir este princípio ou não. E em grande parte estes que foram sendo considerados como não estando capazes foram sendo enviados para os asilos para serem curados. As revoluções foram sucedendo não apenas na industria mas também em vários outros sectores, nomeadamente da saúde. E ao longo destes anos fomos assistindo a um processo de desinstitucionalização psiquiátrica. Contudo, são muitas as pessoas que apresentando determinadas características comportamentais e condições neuropsiquiátricas, que continuam ao longo destes anos a verem dificultado o seu processo equitativo de integração no mercado de trabalho. Vamos assistindo à criação de determinada legislação que promove a criação de quotas para as pessoas portadoras de deficiência ou de diplomas legais que procuram proteger o emprego deste grupo. No entanto, a realidade é mais cruel do que isso e continua a mostrar um sistema deficitário e equitativo no acesso ao mercado de trabalho. E apesar de continuarmos a verificar que existem cada vez mais pessoas com estas condições e que apresentam um perfil adequado para a integração do mercado de trabalho, nomeadamente porque têm uma formação superior e ou especializada. O certo é que muitos deles continuam a ser desviados para programas educativos que não parecem promover a sua autonomia e independência enquanto pessoas adultas. E o mercado parece continuar em muito obscurecido em relação a todos eles, ficando mergulhados em crenças e mitos que parecem muitos deles saídos da Nau dos Loucos de Bosch. Esta noção de capacidade, produto da construção social de um corpo padrão perfeito, designado de normal e da sublimação da capacidade e aptidão das pessoas em virtude da sua deficiência, parece ter a sua raiz na 1ª revolução industrial. E ao fim destes anos todos parecemos ainda dominados por este modelo biomédico em detrimento de termos um modelo integrado entre este e o modelo social, e que pudesse justamente combater e destronar o conceito de capacitismo, Ainda que a 5ª revolução industrial possa ser a integração do Homem com a máquina e os processos, e isso ser parte de uma grande transformação para a Sociedade. A celebração da diversidade, enquanto factor sempre presente na Humanidade e na Natureza continua a fazer todos e porventura nos dias de hoje, ainda mais sentido. A velocidade com que as transformações acontecem e a necessidade cada vez mais diversificada de respostas leva a que todos nós devamos considerar a importância de todos na participação e na construção de um mundo melhor.
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