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A pele que há em mim

Pedi que o escrevessem nas costas, diz Marina (nome fictício). Da próxima vez que ele me arrancasse a roupa do corpo e me forçasse a ter sexo com ele haveria de perceber, continua. Não sabia como lhe havia de dizer, refere. Não é que não tenha vontade, mas quando chego às situações fico como que congelada, acrescenta. E como também não sei quando é que podia acontecer, pedi que o pintassem no corpo, conclui.


Compreendo perfeitamente a Marina, diz Ângela (nome fictício). Uma das vezes que fui fazer queixa à esquadra da PSP perguntaram-me vezes sem conta como é que eu podia não ter sentido o que ele me tinha feito, refere. Não consegui falar-lhes da minha hiposensibilidade. Mas também achei que eles não iriam perceber, conclui.


Numa dessas associações onde uma vez fui parar perguntaram-me se se sabia o que era uma relação abusiva! diz Rafaela (nome fictício). Eu respondi que não sei sequer o que seja uma relação, refere. Como é que eu haveria de saber o que quer que fosse? pergunta Comecei a apanhar desde cedo, e a maior parte das vezes nem sequer sabia porquê, acrescenta. Depois tive alguns namoros na adolescência. Não sei se eram namoros, mas as minhas colegas diziam que sim. Em três desses namoros eles batiam-me. Depois cheguei a estar com uma rapariga, mas ela também me batia, conclui.


Em casa sempre vi o meu pai a mandar e desmandar em tudo, refere Júlia (nome fictício). E por conseguinte a minha mãe também lhe fazia as vontades todas e não o contradizia, refere. Um dia a minha irmã mais velha decidiu dizer-lhe que não e fazer-lhe frente e ele deu-lhe uma sova. Nunca mais ninguém disse nada, continua. Desde então sempre tive outras pessoas a mandar e a desmandar em mim e na minha vida. Foi o que eu aprendi, nunca vivi outra coisa, conclui.


Sabes o que é que eu acho que mais me magoa, é que ele nunca me tenha ensinado a amar ou o que é o amor, refere Patrícia (nome fictício). Há muitas coisas que eu não sei e que fui aprendendo em vários sítios. O amor ainda não. Não sei quando o vou perceber, conclui.


Só quando chegue à vida adulta e comecei a falar com outras colegas minhas no trabalho é que percebi que havia algumas coisas que não estavam certas, diz Palmira (nome fictício). Não lhe conseguia perguntar essas coisas, tinha vergonha. Tal como também o tinha durante a adolescência, diz. Não sabia como é que as pessoas iam responder ou reagir. Lá em minha casa experimentei perguntar uma vez e a reacção não foi boa. Achei que com as minhas colegas na escola seria igual, conclui.


Tal como a Palmira eu só descobri o prazer depois do meu divórcio aos cinquenta, diz Raquel (nome fictício). Não fazia ideia do que fosse isso, diz. Não fazia ideia de muita coisa, confesso. Casei com o meu primeiro e único namorado, acrescenta. Era assim que pensava que devia ser. E como aconteceu eu aceitei. A minha aceitação de tudo tirou-me a oportunidade de aprender o que era o desejo. Espero viver ainda o suficiente para o sentir, conclui.


Nunca me quiseram explicar como seriam os namoros, diz Catarina (nome fictício). Primeiro acharam que eu não me interessava. Depois acho que ficaram com receio. Um dia disse à minha mãe que gostava da minha colega, refere. Pensei que a minha mãe fosse entender. Afinal é uma mulher como eu. Mas não. Então cheguei à Faculdade sem saber como era um namoro. O que devia e não devia acontecer. E não, não me estou a referir a usar preservativo. Já vi vídeos suficientes na escola de como fazer isso, conclui.


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