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A Influência da Cultura no Entendimento do Autismo

A Influência da Cultura no Entendimento do Autismo

Certa vez ao entrar na casa de um amigo fiquei absorvido pela quantidade de gatos de loiça semelhantes a este da imagem. Ao principio fiquei espantado tendo em conta que este meu amigo além de ser alergico ao pêlo dos gatos desde sempre, também nunca lhe conheci um gato como animal de estimação. E como tal demorei algum tempo até lhe colocar a questão sobre os tais gatos de loiça, que depois fiquei a saber se tratarem de Maneki neko, também conhecido como gato que convida ou gato da sorte, com origem no Japão e que remontam ao século XVII. Após fazer-lhe a pergunta sobre os gatos descobri todo um manancial de coisas sobre os Maneki neko e de toda a sua variedade de exemplares para cada uma das coisas que se deseja. Além das histórias ancestrais que remontam ao principio do século XVII e de como surgiu a lenda dos Maneki neko.


Mas o que é que o autismo tem a ver com o Maneki neko? Tudo! Seja em relação ao Maneki neko, mas também em relação ao autismo, existem muitos conceitos errados. Muitos deles assentes num conhecimento construído num saber popular e que encontrou bases de referência na industria cinematográfica ou nas fake news.


Quando as coisas nos são desconhecidas é frequente passarem a ser sentidas como estranhas. Contudo, umas das respostas possiveis face a algo desconhecido é o de tentar compreender. Se nos derem algo desconhecido dizendo que é para comer é esperado que observemos, cheiremos e provarmos antes de decidir se vamos ingerir ou não. Além disso podemos sempre perguntar à outra pessoa para nos falar mais sobre o alimento em questão. Como se percebe este é um comportamento muito habitual e normativo no nosso quotidiano. Mas porque não o fazemos em relação ao autismo? Porque nos é desconhecido? Estranho? Porque não procuramos uma compreensão do que é o autismo e de como podemos interagir com as pessoas autistas?


O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento presente em cerca de 1% a 2% da população mundial. E apesar da grande maioria dos trabalhos cientificos produzidos acerca do autismo serem originários dos EUA (percentagem de autismo 1%) e de alguns países europeus desenvolvidos (e.g., Reino Unido, Países Baixos, França, etc.). O certo é que a prevalência de autismo nos países em desenvolvimento, nomeadamente na África (percentagem de autismo 1%) e Ásia são igualmente grandes comparativamente ao verificado nos EUA. Contudo, os estudos que caracterizam esta condição dizem apenas respeito a um autismo em pessoas caucasianas e da classe média. Tendo em conta todo um conjunto de diferenças que são conhecidas em relação ao impacto que a cultura destes diferentes países pode ter em relação à expressão comportamental das pessoas autistas, mas também não autistas, parece importante poder ter em conta esta questão transcultural do autismo.


Até porque, a forma como o autismo é percebido e compreendido pode variar significativamente de uma cultura para outra. Neste texto, exploraremos a influência da cultura no entendimento do autismo, especialmente no que diz respeito à sua identificação, avaliação e intervenção psicológica no adulto.


Estudos transculturais sobre o autismo mostraram que a cultura molda a forma como as famílias, os profissionais e as comunidades compreendem e tratam as perturbações do desenvolvimento. Entre as perturbações do desenvolvimento, as interpretações e os tratamentos do autismo são particularmente susceptíveis à influência da cultura porque não existe uma causa consensual para a perturbação; o diagnóstico do autismo baseia-se fortemente em critérios comportamentais e as normas comportamentais variam consideravelmente entre culturas.


O nascimento de um filho é universalmente aceite como um acontecimento que muda a vida. A maioria dos adultos encara o nascimento do seu filho com um misto de alegria e ansiedade. Inevitavelmente, expectativas sobre a aparência, o temperamento e o percurso de desenvolvimento da criança, com base em desejos e experiências passadas. Quando se nota que uma criança tem atrasos no desenvolvimento da fala, comportamentos repetitivos atípicos e problemas de interação social recíproca, pode ser tomada a decisão de procurar uma avaliação. Como os instrumentos e padrões diagnóstico podem ser diferentes em diferentes culturas, isso pode levar a diferenças significativas no tempo entre a deteção e o diagnóstico.


Um dos principais características das PEA é a interação social recíproca. Como resultado, as diferenças nas crenças culturais sobre o comportamento social adequado podem afectar o diagnóstico preciso das PEA. E o mesmo pode ser pensado para a comunicação verbal e não verbal. Por exemplo, se estivermos nos países escandinavos é esperado que a comunicação verbal e não verbal possa ser menos expansiva comparativamente aos países do sul da Europa.


O Que É o Autismo?

A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), conhecido como autismo, é caracterizado por dificuldades em comunicação, interação social, e comportamentos restritos e repetitivos. Embora o autismo possa ser identificado em tenra idade, há uma crescente realidade de adultos que vivem com autismo não diagnosticado. O autismo no adulto apresenta desafios únicos, e é crucial compreender como as normas culturais influenciam o reconhecimento e a aceitação dessa condição.

A Cultura e a Compreensão do Autismo

A cultura desempenha um papel fundamental na maneira como o autismo é percebido. Em algumas sociedades, o autismo pode ser estigmatizado, enquanto em outras, pode ser visto como uma variante normal do desenvolvimento humano. O entendimento cultural do autismo pode afetar diferentes áreas, como:

  • Estigma Social: Em algumas culturas, o autismo é visto como uma maldição ou uma consequência de comportamentos parentais inadequados, levando a um maior estigma e discriminação.

  • Identificação Precoce: Culturas que valorizam a saúde mental e a educação podem estar mais propensas a identificar sinais de autismo em crianças, facilitando uma avaliação autismo no adulto mais tarde na vida.

  • Compreensão da Diversidade: Algumas culturas têm uma visão mais holística sobre a condição humana, aceitando a diversidade como parte natural da existência, enquanto outras podem procurar a conformidade a um padrão neurotípico.

Reconhecimento do Autismo no Adulto

O reconhecimento do autismo no adulto é muitas vezes desafiante, especialmente em sociedades onde a conscientização é limitada. Muitas pessoas adultas autistas podem não ter recebido um diagnóstico na infância. Em vez disso, podem ter sido rotuladas como “peculiares” ou “tímidas”. O entendimento cultural é essencial para mudar essa narrativa e permitir que mais adultos recebam o diagnóstico apropriado.

O Papel dos Órgãos de Comunicação Social e Educação

A forma como o autismo é retratado nos órgãos de comunicação social e na educação pode influenciar grandemente a percepção pública. A educação sobre o autismo deve ser culturalmente sensível e acessível, ajudando a desmistificar muitos dos mitos associados ao autismo. Quando as pessoas vêem representações precisas de indivíduos autistas, isso pode ajudar a gerar empatia e compreensão.

A Importância da Avaliação

A avaliação do autismo no adulto é um passo crítico para oferecer o apoio necessário. Uma avaliação eficaz deve considerar o contexto cultural do indivíduo, reconhecendo como diferentes culturas podem influenciar a comunicação, comportamentos e modos de expressão de sentimentos. O profissionais de saúde mental precisam trabalhar dentro de um modelo culturalmente competente que reconheça e respeite as diferenças em vez de impor uma visão ocidental ou eurocêntrica do autismo.

Intervenção Psicológica no Adulto

A intervenção psicológica autismo no adulto deve também levar em conta a cultura. Terapias que são adaptadas de acordo com as normas culturais do cliente podem ser mais eficazes. Por exemplo, em algumas culturas, a abordagem familiar é essencial, e envolver a família no processo de intervenção pode resultar em melhores resultados.

Estratégias de Intervenção Eficazes

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Adaptar a TCC às sensibilidades culturais e estilos de comunicação demonstrou ser uma estratégia eficaz para muitos adultos autistas.

  • Grupos de Apoio: Criar grupos de apoio que ajudem adultos autistas a conectarem-se entre si, compartilhando experiências e estratégias dentro de um contexto cultural, pode fortalecer a rede de apoio.

  • Formação de Profissionais: Treinar profissionais de saúde mental em competências culturais é essencial para assegurar que sejam sensíveis às necessidades de adultos autistas de diversas origens.

A Necessidade de Advocacy e Conscientização

A defesa dos direitos dos indivíduos autistas deve ser uma prioridade nas comunidades. Aumentar a conscientização sobre o autismo nos adultos, promovendo a educação cultural e fornecendo informações acessíveis, pode ajudar a terminar com o estigma e a promover uma maior aceitação da diversidade neuropsicológica.

Transformar Percepções

Celebrar a diversidade e a individualidade é uma forma de promover uma cultura mais inclusiva. Incentivar a participação de adultos autistas em eventos comunitários e em discussões sobre políticas e práticas pode dar voz àqueles que muitas vezes são silenciados. É importante que as vozes de indivíduos autistas sejam ouvidas, pois são eles os melhores defensores de suas próprias necessidades e direitos.

Desconstruir o Estigma

O estigma em torno do autismo pode ser um grande obstáculo para aqueles que procuram apoio e compreensão. Ao discutir a maneira como a cultura influencia essas percepções, podemos trabalhar coletivamente para desmantelar estereótipos e preconceitos. A educação e o diálogo são ferramentas poderosas na luta contra o estigma.

Exemplos de Sucesso

Em diversas culturas, grupos e iniciativas têm-se destacado na promoção da aceitação e inclusão de pessoas autistas. Esses exemplos mostram que o entendimento do autismo pode ser enriquecido por diferentes perspectivas e experiências.

  • Iniciativas Locais: Comunidades que organizam workshops e seminários podem proporcionar espaços seguros para discutir o autismo e compartilhar experiências.

  • Arte e Cultura: Muitos artistas e escritores autistas utilizam suas plataformas para discutir sua vivência, promovendo a aceitação através da arte.

  • Políticas Públicas: Algumas nações têm adotado políticas que garantem igualdade de direitos e acesso para aqueles com autismo, o que é exemplar para outras culturas.

Além do Diagnóstico: A Vida com Autismo

É fundamental recordar que a vida de um adulto diagnosticado com autismo não se limita ao seu diagnóstico. Cada indivíduo autista é muito mais do que sua condição. Eles trazem experiências, talentos e perspectivas únicas ao mundo. O suporte, a aceitação e a inclusão são pilares que permitirão que esses indivíduos prosperem, independentemente de seus desafios.

O Futuro do Entendimento do Autismo

O futuro do entendimento do autismo no adulto envolve uma crescente aceitação e inclusão. À medida que mais pessoas se tornam conscientes das realidades do autismo e do impacto da cultura nas percepções e experiências, podemos trabalhar em direção a uma sociedade que celebra a diversidade.

Uma Chamado à Ação

Seja um defensor da inclusão e da aceitação do autismo. Participe de discussões, eduque-se e a outros sobre a condição e promova um ambiente onde todos, incluindo adultos autistas, possam florescer.

Estamos todos juntos nesta jornada, e cada passo que damos em direção ao entendimento e aceitação do autismo é um passo em direção a um mundo mais justo e inclusivo. O nosso papel é garantir que o autismo seja reconhecido, respeitado e celebrado como parte da rica tapeçaria da condição humana.

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