Mãe, como nascem os bebés? Quantas vezes esta pergunta não se fez ouvir nos momentos mais inoportunos e difíceis de explicar a uma criança sobre o processo de gravidez e nascimento dos bebés? E quantas vezes não se ouvir dizer - "Das cegonhas, os bebés vêm das cegonhas!". E quantas vezes já ouviu falar da gravidez na mulher autistas? Silêncio...!
Para além de causarem algumas dificuldades à EDP devido à nidificação nos postes de alta tensão, as cegonhas têm servido ao longo de muitos anos e a muitos de nós de desculpa para não ter de explicar às crianças afinal de onde vêm os bebés. A culpa é dos gregos. Para além das cegonhas continuarem a tomar conta das suas crias depois destas já saberem alimentar-se, estas parecem transparecer um ar materno. Isto e o facto da cegonha voar para sul no outono e voltar após nove meses, coincidente com o período de gestação do novo casal. A ideia parece ter ficado e ainda hoje se continua a perpetuar.
Mas não é de rituais de acasalamento da cegonha ou de ornitologia que quero escrever. Mas sim da gravidez na mulher autista. Tal como na história da cegonha que se perpetua a ideia de que a mulher autista engravida também parece fazer parte de algum mito ou crença popular, atendendo ao facto de muito raramente se falar acerca do tópico. Para além do facto da mulher no autismo continuar a ser muito frequentemente subdiagnosticada ou mal diagnosticada. Adiciona-se a dificuldade em se falar da sexualidade, maternidade e gravidez na mulher autista. Este facto faz com que um momento da vida já de si tão sensível e com necessidade de cuidados seja vivido com um sentimento de maior insegurança e solidão.
As mães autistas aprecem apresentar maior probabilidade de ter depressão pré ou pós-natal. Facto que não parece constituir grande novidade atendendo ao número de mulheres autistas com depressão enquanto comorbilidade. Mães autistas parecem relatar maiores dificuldades nas áreas de parentalidade, como multitarefas, lidar com responsabilidades domésticas e criar oportunidades sociais para seu filho. Não que não sejam capazes de realizar estas tarefas mas o facto de terem de realizar um conjunto de tarefas em simultâneo dificulta tal como acontece muito frequentemente em mulheres e homens autistas. Comunicar-se com os profissionais sobre o filho é uma situação geradora de stress para as mães autistas. Mães com autismo foram mais propensas a relatar sentimento incompreendido pelos profissionais, maior ansiedade e mutismo selectivo, e não saber qual os detalhes apropriados para compartilhar com os profissionais. Queixas que já são em muito reportadas pelos autistas sejam mulheres ou homens em situações de contacto com profissionais de saúde. Mães autistas parecem ser mais propensas a encontrar a maternidade como uma experiência isolada, preocupar-se com o julgamento feito pelos outros, sentirem-se incapazes de recorrer aos outros para apoio na parentalidade.
A incompreensão muito frequentemente sentida nos autistas leva-os a procurar grupos de ajuda, normalmente pessoas que possam estar a passar ou ter passado por situações semelhantes. Algo que se torna difícil ou perto do impossível na mulher autista grávida. S procurarmos no google cruzando as palavras grávida/gravidez/autismo aquilo que iremos encontrar são links a direccionar para os possíveis problemas encontrados no autismo ou as causas possíveis do autismo durante este processo. É fundamental poder compreender como é que as características presentes na Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) e as qualidades associadas ao autismo como podem afectar a experiência de uma mulher autista durante a gravidez, parto e parentalidade.
Muitas mulheres autistas podem sentir-se ansiosas em situações de espera em salas de espera no hospital, centro de saúde, consultórios privados, etc. e não se sentirem confortáveis em fazer conversa circunstancial com outras mães ou membros do pessoal.Em casos de extrema ansiedade, as mães poderiam receber cuidados pré-natais em casa ou ser programado para a primeira consulta do dia. O estimulação sensorial estimulação numa sala de espera pode adicionar a uma mãe aflição em grau suficiente como os ruídos, aglomeração e falta de familiaridade. Tal como poder ter acesso a instruções claras deste processo de gravidez por escrito e não somente verbalmente atendendo a uma maior dificuldade no processamento de toda aquela informação num momento único. Já para não falar da necessidade de preparação para o momento do parto e de todos os passos envolvidos.
Ao longo do texto vou-me apercebendo, tal como em tantas outras áreas, que o facto de podermos contemplar as necessidades dos autistas e neste caso das mulheres autistas iremos por incluir as necessidades de muitas outras mulheres sem este diagnóstico e que necessitam de um conjunto de cuidados no processo pré e pós parto. Apesar das necessidades poderem estar potenciadas por um conjunto de características existentes, nomeadamente hipersensibilidades. Ainda assim a resposta a fornecer para um período mais estável e com qualidade de vida não é tão diferente.
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