As primeiras raparigas a serem diagnosticadas com Síndrome de Asperger nos anos 90 estão numa altura da sua vida em que escolhem ser mães, ou então já o foram inclusive. Terão neste momento entre 30 a 40 anos, sendo que em Portugal a média da idade da mulher na altura do nascimento do seu primeiro filho é de 30,5 anos. E se não se fala muito do autismo no adulto, e principalmente nas mulheres. Menos ainda se fala sobre as mulheres autistas durante o período da gravidez, e quase nada sobre o pós parto. Qualquer mulher que esteja a ler este post e já tenha sido mãe, será certamente capaz de identificar um número infinito de momentos, situações, sensações, medos e alegrias únicas, incomparáveis e quase indiscritíveis. Vou confiar na minha habilidade criativa, mas principalmente na minha capacidade de escutar o Outro a recontar as suas vivências, para escrever nas próximas semanas alguns textos sobre este momento da vida tão especial. O primeiro texto sairá para a semana no SAPO LifeStyle. Estamos nos últimos dias, quase a perfazer as 40 semanas de gestação. A checklist diz que a mala para levar para o hospital já está preparada. Mas é sempre possível fazer uma e outra revisão, não vá faltar alguma coisa vital. A barriga está enorme e deixa pouco espaço para o que quer que seja. Dormir já se tornou quase uma tarefa impossível. As mexidas e remexidas na cama à procura de uma posição perto de confortável parece não chegar. As contrações ou ameaças de contrações fazem disparar o alarme. Outra vez falso alarme. Não faz mal, porque serviu para testar todos os procedimentos. Ela está nervosa, mas parece mais consciente de tudo o que está a acontecer consigo, com o seu corpo e com o bebé que está dentro de si. Ele nem por isso. Parece não perceber nada e nem sempre faz as perguntas adequadas, mas está lá, sempre. Até o cão que lhes têm feito companhia nos últimos cinco anos percebe que alguma coisa se está para passar...
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