Parece existir uma ideia generalizada que as pessoas dentro do Espectro do Autismo não se tornam dependentes do Álcool ou de outras substâncias psicoactivas. Não há fumo se fogo e a evidência cientifica e os casos clínicos parecem demonstrar algo diferente.
Os primeiros casos clínicos de pessoas jovens adultas e adultas dentro do Espectro do Autismo com quem comecei a trabalhar apresentavam entre outras características uma ideia muito rígida face ao tabaco, álcool e outras drogas, assim como aos seus consumidores. Inclusive chegavam em determinada altura a deixar de querer acompanhar determinados colegas ou até mesmo amizades quando estes começaram a consumir.
Associado a esta ideia o facto de existirem hipersensibilidades olfactativas em muitas das pessoas dentro do Espectro do Autismo ajudava a engrandecer esta ideia de que os odores do consumo de determinadas substâncias causaria mais rapidamente uma repulsa do que uma aproximação. Fiquei com uma ideia ingénua de que ter um diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo funcionaria como um factor protector face ao consumo de substâncias e principalmente face ao se tornarem dependentes de substâncias psicoactivas e álcool.
A curiosidade fez-me continuar a questionar e a continuação dos casos clínicos ajudou a construir uma ideia algo diferente. Uma das características comuns de observar na Perturbação do Espectro do Autismo é a ocorrência em simultâneo de Perturbação de Ansiedade ou pelo menos de sintomas de ansiedade e alteração do Humor (depressão). Para além disso verifica-se a existência de dificuldades na área da interacção social. E há um conjunto grande de pessoas no Espectro do Autismo que procuram e desejam interagir socialmente. Contudo as dificuldades estão lá.
Tal como nas Perturbações de Ansiedade e do Humor ser comum verificar-se a existência de consumo de substâncias como álcool ou outras drogas para desinibir e facilitar a interacção social ou o mal estar causado pela ansiedade e depressão. Da mesma forma comecei a verificar casos e mais casos de pessoas do Espectro do Autismo associado a consumos com características de adição. E em parte quando os casos de Espectro do Autismo estão associados a características e Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção.
Os investigadores têm procurado olhar para os comportamentos repetitivos nas duas condições: Perturbação do Espectro do Autismo e Perturbação pelo uso de substâncias. Parece existir muitas semelhanças na utilização dos comportamentos repetitivos entre ambas. Por exemplo,, as regiões cerebrais afectadas são as mesmas e envolve os mesmo genes.
Também nesta área do consumo de substâncias precisamos de olhar com mais cuidado a sua prevalência no Espectro do Autismo. Nomeadamente nas dificuldades que acarreta para o desenvolvimento do quadro clinico.
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